Tem sido surpreendente e revelador acompanhar a transformação das pessoas nas organizações após o início da pandemia. Nos processos de Coaching Executivo e Desenvolvimento de Lideranças que realizei ao longo dos últimos meses, percebi comportamentos, atitudes, ações e muitos sentimentos até então incomuns no dia a dia de trabalho dos mais diversos perfis de pessoas.
É absolutamente evidente uma transformação emocional, de atitude e valores das pessoas a partir das regras de isolamento social, home office e o risco, na saúde física e emocional, de uma ameaça invisível de um vírus desconhecido. Em razão disso, se faz necessário uma adaptação rigorosa no perfil das lideranças desde o início da pandemia. Quero me alongar um pouco mais a respeito da influência da pandemia nas atitudes e personalidade das pessoas e nos impactos dela nas organizações no que se refere ao engajamento, a produtividade, ao clima, a cultura e a satisfação com o trabalho que desempenham.
Embora, eu tenha acompanhado diversas empresas e colaboradores neste período, percebi uma grande preocupação das organizações, de maneira geral, com a saúde de seus funcionários, principalmente no que se refere ao cumprimento dos protocolos de prevenção. Apesar dos esforços das empresas para adotar tais protocolos, me surpreendi com a ausência de atitudes para oferecer apoio profissional no combate ao estresse emocional das pessoas gerado pela pandemia.
Um estudo publicado no final de 2020 pela empresa de saúde emocional corporativa Vittude, em parceria com a Opinion Box identificou que, de 2.007 empresas que participaram da pesquisa, 47% não adotaram nenhum procedimento relacionado à saúde mental de seus funcionários durante a pandemia e apenas 18% disponibilizaram equipe psicológica ou de saúde para atendimento individualizado.
A pesquisa também revela um retrato do impacto da pandemia na saúde mental dos colaboradores: 41% dos entrevistados disseram que nos últimos meses sentiram um “medo intenso de que alguém próximo ficasse doente ou morresse”, 33% apresentaram insônia e a mesma quantidade de pessoas sofreu crises de ansiedade. São números que nos permitem considerar que quase metade das equipes sofreram algum abalo emocional nesse período.
Você já refletiu sobre quem deverá apoiar estes colaboradores a recuperarem sua estabilidade emocional e o equilíbrio para o trabalho? Ou como contribuir para que as pessoas se mantenham em boas condições de engajamento, motivação, comprometimento e satisfação, já que esses fatores impactam diretamente a produtividade e o desempenho?
Estamos diante de mais um desafio para as lideranças dessas equipes: estar atento ao apoio emocional aos seus times, assumindo novas atitudes e aprofundando seus conhecimentos sobre como lidar com as suas emoções e as das outras pessoas.
Um dado que ainda reforça o desafio nesse sentido é que apenas 33% dos funcionários se sentem à vontade para conversar com seus líderes sobre saúde mental, o que indica que estamos muito distantes do que se espera de um gestor de pessoas em um mundo pandêmico.
Apesar disso, é possível perceber um movimento tímido de alguns líderes em desenvolver habilidades para conduzir essa demanda da forma correta. A pandemia acelerou a necessidade de que os gestores de equipes reorganizem suas atividades operacionais e técnicas para disponibilizar mais tempo para o diálogo, dar mais atenção aos assuntos pessoais, ouvir com atenção, ser mais participativo e interagir de forma mais empática com seu time, compreendendo seus sentimentos e orientando com bom senso e serenidade. Isso não significa servir de conselheiro ou psicólogo, mas sim reconhecer a necessidade de auxílio às pessoas e tomar as decisões certas para apoiá-lo.
Soft skills como autoconhecimento, resiliência e equilíbrio emocional são indiscutivelmente importantes para os líderes, mas não podemos esquecer que eles também estão vivenciando o mesmo cenário de incertezas e pressão por resultados. As organizações precisam proporcionar aos líderes o mesmo apoio que devem oferecer para seus times. Portanto, reconhecer as próprias fragilidades e pedir ajuda para pessoas de sua confiança ou profissionais especializados é uma atitude esperada na posição de liderança.
Imagem: freepik / shurkin_son
*Simoni Missel é Sócia Diretora da Missel, Psicologa, Coach Executiva e Especialista em Gestão de Pessoas.