Quando falamos sobre o papel do líder nas organizações normalmente analisamos diversos cases, dados de pesquisas e estudos realizados com profissionais nessa posição. Essa é uma maneira bastante eficaz de identificar diversas questões tangíveis e mensuráveis sobre as lideranças como suas competências, conhecimentos, habilidades, etc.
Por vezes, as conclusões dessas análises são apresentadas como se fossem uma “receita de bolo”. A ideia é quase que solucionar a crise de liderança que vivemos globalmente. Os líderes são mapeados e seus perfis são apresentados com base em suas competências e critérios técnicos, inclusive indicando as melhores áreas de estudo para formação de alguém que queira ser líder. É como se fosse a salvação das organizações em um passo-a-passo.
Não há dúvidas de que esses estudos são relevantes e trazem insights necessários para gestão de pessoas e a tomada de decisão estratégica. Identificar perfis é fundamental para apoiar processos importantes sobre os recursos humanos. As pesquisas têm como objetivo fazer isso de forma genérica, o que também é válido em determinado sentido. Entretanto, o erro está em descartar a relevância de duas variáveis que funcionam como o grande “combustível” das lideranças: a experiência e o tempo.
Antes de analisar estas variáveis, é importante explicar a razão pela qual são citadas de forma independente nesse texto, já que podemos relacionar diretamente experiência e tempo como intrínsecas. Quando falo em experiência, me refiro aos fatos específicos e determinados, suas histórias, seus casos. Já o tempo é aquele tempo cronológico, o passar dos anos, dos dias.
Na maioria dos estudos e pesquisas que encontramos sobre o assunto, os resultados trazem informações sobre a liderança e a definição de um perfil ideal genérico de competências para a posição. Porém, alcançar a excelência quando se fala em liderar tem muito mais a ver com as suas experiências individuais e com o tempo no papel de liderança. Isso por uma questão muito simples: é impossível determinar o momento em que alguém se torna líder, pois isso não se dá a partir de um passo-a-passo que resulte em um perfil de líder ideal.
Podemos relacionar dois exemplos que deixam isso um pouco mais claro. Um deles é uma dieta. Quando damos início à uma dieta não percebemos nenhum resultado no primeiro dia, muito menos no segundo dia ou até mesmo no primeiro mês. O mesmo ocorre quando analisamos a evolução de atletas de alto rendimento: pessoas que repetem treinos, movimentos e exercícios milhares de vezes durante anos para alcançar a excelência em algo que parece muito simples como, por exemplo, correr 100 metros rasos em uma Olimpíada em menos de 10 segundos.
A liderança funciona da mesma forma. Não é possível determinar o momento em que um líder se torna líder, assim como não se pode saber quando uma dieta começa a ter efeito ou quando um atleta se torna excelente no que faz. O que determina o sucesso do líder, do atleta ou de alguém que faz dieta é uma série de experiências e do tempo que se investe para alcançar um objetivo.
Desenvolver o papel de líder tem mais a ver com as pessoas com quem você se relacionou, como solucionou seus desafios e o que absorveu de aprendizado em cada um deles. Reconhecer um perfil de competências ideal ou cursos e treinamentos que podem apoiá-lo a se tornar um líder são questões importantes, mas não definitivas. Vivenciar o papel de liderança de forma consistente e reconhecer as experiências como aprendizado é a parte mais profunda do processo. Líderes precisam de experiências e tempo mais do que qualquer coisa para alcançarem o sucesso.
Imagem: freepik / katemangostar
*Ricardo Missel é sócio da Missel Capacitação Empresarial, Administrador e Especialista em Design Estratégico.