Como a pandemia reprogramou a nossa visão sobre o trabalho

Algumas etapas da nossa carreira são muito marcantes e ficam na memória para o resto da vida. Normalmente são episódios ligados a mudanças positivas ou negativas que de alguma forma resultaram em aprendizado e experiência. Mas todas as gerações que estão trabalhando em 2021 levarão juntas uma lembrança comum: os impactos de uma pandemia que transformou a visão sobre o trabalho.

Apesar da realidade de trabalho da população ser muito diferente, é possível identificarmos algumas tendências globais como resultado da pandemia, fruto das experiências e das consequências de um mundo que precisa gerenciar um desafio comum. Essas tendências já nascem a partir de um novo olhar sobre o trabalho, que antecipou algumas possibilidades que nem mesmo a tecnologia conseguiu impulsionar com tanta velocidade. E isso deixou claro o quanto o impacto do comportamento das pessoas e da cultura pode ser poderosa e transformadora.

De todas essas tendências, pode se dizer que algumas delas são genéricas, pois acabaram impactando a maior parte das pessoas (uns mais, outros menos) e por isso também modificam as estruturas e as estratégias de gestão de pessoas. São elas:

– Revisão do propósito sobre o trabalho

Dentre os vários momentos em que as pessoas se distanciaram do trabalho, seja pelo home office, pelas férias coletivas, pelo desemprego ou pela falta de atividade, a reflexão sobre o papel do trabalho na vida das pessoas foi um ponto em comum. Com uma agenda adaptada em função da pandemia e com o local de trabalho redefinido, muitas pessoas despertaram para o entendimento de que o trabalho é algo onde se investe 1/3 ou mais da nossa vida. Portanto, trabalhar em algo que não esteja alinhado com nossos propósitos pessoais não faz nenhum sentido.

A busca por alinhamento de propósitos entre pessoas e empresas é uma tendência forte pós pandemia, e isso só produz impactos positivos para ambos. Buscar no trabalho a satisfação e realização pessoal é o que gera resultados positivos e uma vida mais equilibrada.

– Novas prioridades e necessidades

Na mesma linha da condição anterior, a partir do momento em que as pessoas revisam seus propósitos em função da relevância do trabalho na vida, algumas prioridades são analisadas e reconsideradas. Aquilo que antes fazia sentido muito mais pela falta de reflexão do que pela razão passa agora a ser questionado. “Será que eu me benefício mais com um salário alto ou com um trabalho à distância?” “Será que eu trabalho melhor quando eu tenho um horário fixo ou flexibilidade de agenda?”

Os mesmos questionamentos podem ser feitos em relação aos bens e o conceito de propriedade. “Será que eu preciso ter um carro se eu vou trabalhar de casa?” “Eu posso alugar um carro quando for necessário e reduzirei custos.” Ou “será que eu não posso alugar um apartamento ao invés de comprar um e assim investir algum dinheiro e ter outra renda?”

– Formas de trabalho e oportunidades

Os hábitos aos quais estávamos totalmente acostumados e que moldavam nossas formas de ver o mundo eram quase que aprisionadores. Muitas pessoas ainda têm dificuldade de assumir a possibilidade de que o trabalho não tem a ver com horas de dedicação, mas sim com os resultados e com uma combinação de fatores de satisfação.

O trabalho remoto, o deslocamento, os horários rígidos, os formatos de contrato de trabalho, as ferramentas de recrutamento e seleção de pessoas, os fornecedores, os custos de estrutura… tudo passa a ter seus conceitos redefinidos em função de um novo mindset para mudanças. A partir do momento em que se questiona o status quo das relações e do papel do trabalho na vida, as pessoas conseguem visualizar oportunidades de fazer as mesmas coisa de formas diferentes ou de fazer coisas novas com mais impactos positivos.

O movimento na direção dessas tendências impacta não apenas o mundo do trabalho, mas a sociedade como um todo. Quando questionamos nossos padrões e costumes abrimos a oportunidade de conhecer novos caminhos, novas pessoas e novas formas de viver a vida, seja no trabalho ou nas nossas relações. O maior legado da pandemia é justamente esse: evoluirmos nossa capacidade de refletir e questionar nossos padrões para nos adaptarmos ao novo contexto.

Imagem: freepik / pch.vector

*Ricardo Missel é sócio da Missel Capacitação Empresarial, Administrador, Especialista em Design Estratégico e Finanças Empresariais

Últimos posts

Receba esse e outros conteúdos no seu e-mail:

Desenvolvido por Missel ® 2021

Desenvolvido por Missel ® 2021